As cidades foram feitas para as pessoas. Essa definição é clara, mas mantê-la assim tem sido um desafio para gestores públicos. No Brasil há em média um veículo para cada 2 habitantes, proporção que via de regra colocava o carro como prioridade. Mas esse raciocínio tem ficado para trás devido ao surgimento de soluções inovadoras para as cidades, como a botoeira inteligente que aumenta o tempo de travessia para pedestres com dificuldade de locomoção.
Como exemplo disso, em 2015, de forma pioneira no país, foram implantados em Curitiba 150 módulos de leitores cartão smart em 39 pontos com a maior incidência de pessoas idosas ou com mobilidade reduzida. Para acioná-lo, basta que a pessoa aproxime o cartão transporte dela à botoeira. E a botoeira aumenta o tempo de travessia para esses pedestres em 50%.
Estudos comprovam a demanda
A Botoeira Inteligente foi desenvolvida porque estudos de diversas fontes mostraram que pessoas idosas são as principais vítimas de atropelamentos.
Um exemplo disso pode ser comprovado com dados de 2019 do Ministério da Saúde. Eles mostram que a taxa de óbitos por atropelamento por 100 mil habitantes foi de 7,20 para pessoas com 60 anos ou mais – o dobro da segunda maior taxa entre as faixas etárias verificadas (3,56 para pessoas entre 40 e 60 anos) naquele ano.
Jorge Tiago Bastos, do Departamento de Transportes da UFPR, explica que essa diferença está ligada a características próprias dessa população.
“Via de regra o envelhecimento traz uma perda de sentidos fundamentais para o trânsito, como a audição e a visão. E quando esses acidentes ocorrem, eles são ainda mais graves por conta de comorbidades mais características dessa faixa etária.”
Um estudo conduzido pela USP com 1.191 idosos já traduziu em números essa avaliação. A pesquisa conduzida pela Faculdade de Saúde Pública (FSP) constatou que a população idosa caminha a 2,7 Km/h, em média – uma velocidade 30% menor do que os 4,3 km/h da média.
Para Bastos, políticas públicas que priorizem o transporte a pé acabam atendendo toda a sociedade: “O papel do gestor é enxergar essa necessidade e entender que medidas voltadas para a população idosa têm reflexo para toda a coletividade”.
Projeto de Curitiba recebe prêmio inédito no Brasil
O projeto da Botoeira Inteligente de Curitiba, inclusive, recebeu o Prince Michael International Awards (PMIRSA) em 2015, o mais importante prêmio em segurança viária no mundo.
O prêmio foi entregue durante a 2.ª Conferência Global de Alto Nível em Segurança Viária, evento que reuniu representantes de 120 países. Quatro projetos foram premiados na área, e o curitibano foi o único brasileiro naquela ocasião.
Criado em 1987, na Grã Bretanha, e depois levado para todo o mundo, o PMIRSA reconhece iniciativas que contribuem para a Década de Ação Global pela Segurança no Trânsito e os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – 2015 a 2030.
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