Para quem dúvida da importância da tecnologia para reduzir a violência no trânsito, um exemplo de um cruzamento em Curitiba deu uma resposta clara para o assunto. Depois de registrar 18 atropelamentos por ônibus biarticulados no mesmo ponto em apenas dois anos, a prefeitura local instalou um equipamento para alertar o pedestre sobre a aproximação do BRT. O resultado? Apenas duas ocorrências nos três anos após a implantação do dispositivo.
“Cuidado, ônibus se aproximando”. Há mais de três anos, esse alerta sonoro é emitido automaticamente no cruzamento da Avenida República Argentina com a Presidente Kennedy, no Portão, em Curitiba. São apenas quatro palavras, mas que têm salvado muitas vidas. O equipamento foi a saída encontrada pelo município após ocorrências trágicas serem registradas no local. Nos meses de setembro e outubro de 2017, que antecederam a novidade no semáforo, duas adolescentes e um idoso de 63 anos haviam sido atropelados por biarticulados.
Como funciona
Para funcionar, o Sistema Sonoro de Alerta para Pedestre depende da existência dos sensores de detecção dos ônibus instalados a uma distância segura da faixa de pedestre. No caso, eles estão distantes 40 metros da faixa no cruzamento do bairro Portão. São eles que repassam a informação da presença do veículo ao autofalante. Caso o semáforo esteja vermelho para o pedestre, a passagem do ônibus por aquele ponto emite o alerta: “Cuidado, ônibus se aproximando”. O aviso sonoro também é emitido logo após o ônibus arrancar depois de parar no sinal vermelho.
Mais da metade dos cruzamentos de Curitiba já conta com sensores para priorizar os ônibus nos cruzamentos. São, ao todo, 96 intersecções com prioridade, todas elas localizadas nos eixos Norte/Sul e Boqueirão. A capital paranaense conta com 170 cruzamentos semaforizados em vias exclusivas para o transporte coletivo da cidade.
Causas
A desatenção do pedestre é apontada como a principal causa dos acidentes com ônibus em Curitiba, segundo apontam especialistas. O ponto onde o sistema sonoro foi instalado, por exemplo, é um grande polo gerador de tráfego. Ali se concentram dois shoppings centers, um terminal de ônibus e um centro cultural. Além de um supermercado e diversas lojas de comércio de rua e templos religiosos.
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Para o especialista em trânsito, Celso Mariano, o sinal sonoro para pedestres, em complemento aos equipamentos visuais da sinalização, deveria ser padrão.
“Além dos deficientes visuais, aqueles que enxergam bem, mas que não prestam atenção, também podem se beneficiar. O esforço da SETRAN neste caso é muito acertado”.
Mariano ressaltou, porém, que essas soluções devem ser acompanhadas de uma educação para a mobilidade.
“Lembremos que não será uma solução milagrosa, pois muitos destes pedestres distraídos andam pelas ruas com a audição ocupada, ouvindo música, podcasts, audiolivros ou vendo vídeos em seus smartphones. O que falta é uma educação para a mobilidade, que desperte a percepção de riscos e coloque a todos na perspectiva correta de participação com consciência cidadã. O trânsito é potencialmente perigoso e, quando dele participamos sem prestar atenção e sem nos comportarmos com segurança, estamos contribuindo efetivamente para que acidentes aconteçam”, analisou.
