Mobilidade

Troca da gasolina pela eletricidade se aproxima. Mas a que preço?

A produção de veículos a combustão tem data para acabar. É o que garantem as principais montadoras do planeta. Mas como funcionarão as recargas? E a que preço?

Crédito: Divulgação COPEL

A produção de veículos a combustão tem data para acabar. Pelo menos é o que garantem as principais montadoras do planeta. E ficam as perguntas: Quando teremos veículos elétricos a preços acessíveis? E considerando que nossa principal fonte de energia é hídrica e vivemos uma crise de abastecimento, como funcionarão as recargas?

Projetos de eletrovias têm se espalhado pelo país. No Paraná, por exemplo, é possível ir de Curitiba até Foz do Iguaçu – mais de 700 quilômetros — recarregando seu veículo elétrico em um dos 12 eletro postos instalados pela Copel e Usina Itaipu ao longo da BR-277. E os dados dos primeiros dois anos desse projeto já demonstram um aumento da demanda: a quantidade de recargas nos eletropostos da COPEL dobrou em 2020 (entenda ao final deste texto).

O Brasil vê crescer ano após ano a venda de veículos elétricos e híbridos. Em 2020, a alta foi de 67% na comparação com o ano anterior. E o primeiro quadrimestre deste ano registrou 7.290 novos emplacamentos de veículos elétricos ou híbridos – melhor resultado para o período segundo a ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico).

DEVE CRESCER MAIS Apesar de ainda representar cerca de 5% da frota mundial, os veículos elétricos são a aposta principal das montadoras no mercado global e encontram fortes estímulos tributários em países desenvolvidos. A Associação Internacional de Energia (International Energy Agency, IEA) prevê uma participação de 60% na frota total até 2030.

As principais montadoras do mundo já emitiram comunicados oficiais anunciando o fim da produção de veículos movidos a combustão. As previsões variam, mas partem sempre a partir de 2025. O desafio é equilibrar os custos. No Brasil, adquirir um veículo elétrico padrão, equivalente a um modelo popular a combustão, pode custar R$ 200 mil.

“As metas são audaciosas. Mas tudo vai depender da cabeça de quem está no comando. Precisa de incentivos para alavancar a produção. Por exemplo: Se você produzir carro elétrico, te dou isenção em alíquotas para baixar o custo. Hoje ainda não temos um carro popular elétrico. Os EUA, por sua vez, têm suas montadoras e conseguem dar incentivos significativos”, avaliou Hugo Alexander, professor de transportes do curso de Engenharia Civil da Universidade Positivo.

Em um comunicado oficial, o CEO mundial da Fiat, Olivier François, disse que a montadora tem “o dever” de tornar os preços dos carros elétricos mais acessíveis. “Estamos explorando o território da mobilidade sustentável para todos: este é o nosso maior projeto”, disse.

SETOR COBRA POR ISONOMIA FISCAL NO BRASIL

A ABVE cobra que o governo brasileiro adote alíquotas tributárias, pelo menos, semelhantes para produção, importação e venda de carros elétricos quando comparados com os modelos a combustão. Hoje, o IPI de importação de carros a combustão, por exemplo, é de 7% enquanto o de carros elétricos é de 11%.

De acordo com a associação, de janeiro de 2012 a abril de 2021, a frota elétrica em circulação no Brasil chegou a 49.559 veículos. A ABVE também aponta que a participação dos elétricos nas vendas do primeiro quadrimestre de 2021 chegou a 1,6% do total.

Mas esse percentual ainda é baixo quando comparado com as vendas mundiais. O relatório Global EV Outlook 2021 da IEA mostrou que os elétricos responderam por 4,6% das vendas de veículos em 2020.

Em entrevista ao Blog Integra, Adalberto Maluf, presidente da ABVE e diretor de marketing da BYD, analisou o setor. Para ele, as medidas de redução de impostos para importação adotadas entre 21014 e 2015, “ajudaram a abrir o mercado nacional às novas tecnologias”.

“Mas ainda hoje os híbridos e elétricos plug-in pagam mais imposto federal (IPI) do que um veículo à combustão, na contramão do resto do mundo. Em 2020, a Europa anunciou sua nova política ambiental com grandes incentivos aos híbridos plug-in e elétricos. Já em 2021, a China e os EUA ampliaram suas iniciativas em prol da Eletromobilidade, com investimentos massivos em infraestrutura, subsídios à compra e pesquisa para a indústria do futuro. Infelizmente, o Brasil ainda não tem uma política pública integrada para fomentar o mercado de veículos elétricos e tampouco uma política para fomentar a indústria do futuro. Estamos ficando para trás”.

Modelos dos 7290 veículos elétricos emplacados de janeiro a abril de 2021 no Brasil:

  • Híbridos (HEV): 3869 veículos – 53% do total;
  • Híbridos plug-in (PHEV): 2993 – 41%;
  • Elétricos 100% a bateria (BEV): 428 – 6%
    Fonte: ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico)

COMO FUNCIONA A ELETROVIA PARANAENSE?

A eletrovia fruto de uma parceria entre a Copel e a Itaipu Binacional foi instalada no final de 2018, ao custo de R$ 5,5 milhões. Foram implantados 12 postos de recarga ao longo de 730 quilômetros da rodovia BR-277, ligando o leste do estado ao oeste. Ela promove a recarga rápida dos veículos de forma gratuita.

No primeiro ano de operação (2019), os eletropostos da Copel somaram 330 recargas — totalizando um consumo de 2.914 kWh de energia. Em 2020, foram realizadas 600 recargas em toda a eletrovia. Já o consumo aumentou em cerca de 6,5 vezes em relação ao primeiro ano, totalizando 19 mil kWk.

A média de recargas em 2020 ficou na faixa de 20 kWh, o que dá uma autonomia média ao veículo de 200 km. O custo estimado e aproximado é de R$ 17. Como o projeto é piloto, esse valor é integralmente subsidiado. Para recarregar 80% da bateria de um veículo nesses postos, leva-se de 30 a 60 minutos. Em um carregador doméstico, a recarga desses veículos pode durar de 12h até 24h.

E TEREMOS ENERGIA PARA ISSO?

O Brasil produz atualmente mais energia do que consome. O último anuário Estatístico de Energia Elétrica da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) indicou esse excedente: gerou-se 626.324 GWh e consumimos 482.226 GWh. Mas, claro, pode haver desequilíbrio nessa conta se houver maior demanda por carros. A COPEL, inclusive, já tem estudado o impacto disso nas redes de distribuição e o que pode ser feito para evitar sobrecarga.

“Pesquisas indicam que a maioria das recargas dos veículos elétricos é feita nas residências, durante o período noturno. Isto também acontece com frotas de ônibus e caminhões urbanos (recarga nas garagens). Estas recargas, sob determinadas condições, poderiam causar uma sobrecarga em alimentadores em períodos que são normalmente de baixa demanda”, afirmou Julio Omori, superintendente de Smart Grid e Projetos Especiais da Copel, em entrevista ao site da empresa.

VOCÊ SABIA? No Paraná e em Curitiba, em especial, há incentivos para a aquisição de veículos elétricos. A alíquota do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) de veículos elétricos – que hoje é de 3,5% no Paraná, está zerada para os elétricos até o dia 31 de dezembro de 2022. E a capital paranaense isenta o pagamento do Estacionamento Regulamentado (EstaR) para carros 100% elétricos nas vias públicas da capital, sejam eles particulares ou para compartilhamento (sharing). Para veículos próprios, a isenção é pelo prazo de 2 horas. Para car sharing não há limite de horas.

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