Cidades Inteligentes

‘Ruas Completas’ desafiam a lógica urbana de décadas

O Blog Integra! explica para você o que está por trás desse conceito, que busca dar equilíbrio na definição dos espaços viários das cidades. E tem cidade brasileira que já aderiu. Veja mais na reportagem.

Crédito: Daniel Castellano / Prefeitura de Curitiba

A população urbana nas cidades brasileiras cresceu 1.000% nas últimas seis décadas. Esse crescimento veio acompanhado, principalmente, pela abertura de faixas de rolamento para veículos nas vias e de espaços para moradia e polos geradores de renda. Mas mudanças no estilo de vida das novas gerações, mais adepta à mobilidade ativa e aos serviços de sharing, têm pressionado por um novo desenho das ruas.

Dados

Entre 1940 e 2020, essa população urbana brasileira passou de 13 milhões para mais de 160 milhões. A participação percentual saltou de 31% para mais de 85%.

Foi diante desse cenário que surgiu o conceito de ‘Ruas Completas’, uma proposta para aumentar a segurança nos deslocamentos, independentemente do modal, e criar espaços atrativos de convivência ao ar livre. A premissa é que os deslocamentos a pé, de bicicleta, de carro ou de transporte coletivo tenham igualdade de direito nessa nova arquitetura urbana.

E para incentivar os municípios brasileiros a desenvolverem projetos desse tipo, o WRI (World Resources Institute) do Brasil, um instituto que pensa cidades mais sustentáveis, firmou parceria com a Frente Nacional de Prefeitos (FNP) para a formatar a Rede Nacional para a Mobilidade de Baixo Carbono e apoiar as cidades no desenvolvimento de projetos de ‘Ruas Completas’.  Ao todo, 21 cidades brasileiras já fazem parte dessa rede – e oito delas executaram projetos de ruas completas e tiveram seus resultados documentados em uma publicação recente do WRI.

Resultados mostram queda nos acidentes e ocupação das ruas pelas pessoas

Foram analisados projetos de São Paulo, Salvador, Juiz de Fora, Porto Alegre, Campinas, São José dos Campos, Curitiba e Niterói. Para isso, os pesquisadores fizeram pesquisas de satisfação com comerciantes e pedestres. A aprovação às mudanças ultrapassou a casa dos 90%. Além disso, houve recrudescimento na violência do trânsito onde ocorreram as intervenções.

A Rua Miguel Calmon, em Salvador, por exemplo, passou pela transformação em 2019. No ano seguinte, não registrou nenhuma morte no trânsito e teve o menor número de sinistros com feridos dos últimos 8 anos. O projeto foi aplicado em 1.100 metros, com a implantação de ciclovia, alargamento de calçadas, definição de estacionamento apenas para veículos de serviços e instalação de semáforos inteligentes e nova iluminação e câmeras.

Os 330 metros da Rua Voluntários da Pátria, em Curitiba, também foram requalificados dentro do conceito de ‘Rua Completa’. A via ganhou desde uma nova tubulação de drenagem até pista de veículos em pedras para manter o trânsito mais amigável, além de faixas elevadas de travessias de pedestres, bancos para descanso e arborização.

Clique aqui e veja resultados completos das 8 intervenções

Autor explica o conceito

O professor de Arquitetura e Urbanismo da PUCPR, André Turbay, participa do projeto e ajudou a documentar o caso de Curitiba. Em entrevista ao Blog Integra!, ele explicou o conceito.

“Quando você vê uma placa de rua sem saída, ela está conversando com quem? As vezes essa mesma rua tem uma praça no final dela e ela não é sem saída para pessoas. Com esse exemplo, vemos que a cidade está programada para o automóvel. Implantar a ‘Rua Completa’ não significa proibir o automóvel, mas dividir o protagonismo das ruas com as pessoas e o transporte coletivo.”

Turbay cita o exemplo do projeto Paris 15 minutos, plataforma de governo que ajudou a prefeita Anne Hidalgo a se reeleger nas últimas eleições. A ideia do projeto é requalificar os bairros de modo que todos os moradores da capital francesa consigam ter acesso aos serviços relevantes de seu cotidiano, como trabalho, escola e atividades culturais, em no máximo 15 minutos, seja caminhando ou de bicicleta.

“Há muitas cidades no mundo que perceberam esse movimento. As grandes cidades precisam evoluir no uso do solo e onde há concentração da renda. A cidade de 15min é feita com a distribuição da renda.”

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